Por Luiz Fernando
Chimanovitch
Nasci e cresci no
Bom Retiro, em São Paulo. Um bairro que se renova a cada geração de imigrantes,
trazendo as cores e principalmente os sabores dos que chegam, mantendo também
as características do que ficam e até daqueles que já se foram.
Para quem quer
fazer compras, o Bom Retiro tem na Rua José Paulino um dos maiores centros comerciais
do Brasil, recebendo gente de todos os cantos do País. Com isso, eu acabo me
perguntando se as pessoas que visitam esse bairro percebem que, uma ou duas
quadras daquele monte de lojas tem-se a oportunidade de provar sabores tão
diferentes e distantes quanto um beigale
judaico ou kimchi coreano.
O meu Bom
Retiro, dos anos 80, é o bairro de
presença predominantemente judaica. Lembro-me de encontrar algumas vezes o ator Elias Gleizer, sempre em
algum papel de padre em novelas das seis, na rua Guarani. A mesma rua do seu José,
cujo comércio também é conhecido por Casa Menorá. Lá, você pode
provar delícias judaicas europeias, como o bolo de ricota, as chaloth (pão trançado), beigales, o pão de cebola que merece um
recheio de pastrame de peito de boi, picles e mostarda (em dois tamanhos, o
maior saindo R$ 8, e que podem ser consumidos no local). Além disso, doces,
laticínios, temperos, vinhos de Israel e que seguem os preceitos judaicos de
kosher são, há décadas, comprados pela comunidade judaica paulista.
Tchoulent, a "feijoada" judaica |
Para aqueles que não querem somente petiscar, na rua Correia
de Melo, o Adi Shoshi Delishop,
que existe desde 1991, é comandado pela família israelense Baruch e traz no
cardápio delícias da culinária judaica europeia (ashkenazi) e israelense. Na
minha última visita, um sábado pela manhã, o público variava entre judeus mais
velhos do bairro e jovens estudantes da região. Provei e aprovei o delicioso fígado
batido com ovo e cebola, que veio em quantidade exata para três pessoas. Como prato principal, pedimos um tchoulent
(lê-se chulent), ou um grande cozido com vários e diferentes grãos, tripa
recheada (kishke), molho e pedaços de peito bovino. É o prato
tradicional do sábado em Israel e como a feijoada, cada um tem a versão que
mais gosta.
O novo Bom Retiro é o dos coreanos, o que se torna
evidente depois de caminhar alguns minutos ou observar os letreiros das lojas.
Devagar vai-se conhecendo um pouco da mesa e dos sabores da comunidade. Por
isso, recomendo que passe um tempo entre as geladeiras e gôndolas dos mercados
nas ruas Três Rios e Prates. O meu favorito é o O&G na Três Rios,
245. Lá, você encontra, entre saladas prontas, pães, frutas e peixes, produtos
interessantes como vinagre de caqui, chá de citron, sopa de abóbora com mel
para microondas, garrafas de soju (fermentado destilado alcoólico
coreano), a bebida mais vendida na Coreia, e o sempre presente kimchi, fermentado de acelga e
acompanhamento para todas as refeições coreanas.
Voltando à refeição no Bom Retiro, a sobremesa fica
para as novas e excelentes padarias coreanas na Rua Prates, 547. O bom café vem
acompanhado de pão de feijão azuki doce, o rocambole de chá verde, e o pão de
café recheado de requeijão. A casa ainda oferece diferentes salgados, pães de
sabores (prove o de espinafre) e sorvetes coreanos.
Visite o bairro aos fins de semana, é fácil de chegar
de metrô (Tiradentes – linha azul) ou de ônibus. Deixe-se levar pelas ruas,
seja curioso e chegue com apetite.
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