sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Bom Retiro: Médio e Extremo Oriente no centro de São Paulo


Por Luiz Fernando Chimanovitch

Nasci e cresci no Bom Retiro, em São Paulo. Um bairro que se renova a cada geração de imigrantes, trazendo as cores e principalmente os sabores dos que chegam, mantendo também as características do que ficam e até daqueles que já se foram.

Para quem quer fazer compras, o Bom Retiro tem na Rua José Paulino um dos maiores centros comerciais do Brasil, recebendo gente de todos os cantos do País. Com isso, eu acabo me perguntando se as pessoas que visitam esse bairro percebem que, uma ou duas quadras daquele monte de lojas tem-se a oportunidade de provar sabores tão diferentes e distantes quanto um beigale judaico ou kimchi coreano.

O meu Bom Retiro, dos anos 80, é o bairro de presença predominantemente judaica. Lembro-me de encontrar algumas vezes o ator Elias Gleizer, sempre em algum papel de padre em novelas das seis, na rua Guarani. A mesma rua do seu José, cujo comércio também é conhecido por Casa Menorá. Lá, você pode provar delícias judaicas europeias, como o bolo de ricota, as chaloth (pão trançado), beigales, o pão de cebola que merece um recheio de pastrame de peito de boi, picles e mostarda (em dois tamanhos, o maior saindo R$ 8, e que podem ser consumidos no local). Além disso, doces, laticínios, temperos, vinhos de Israel e que seguem os preceitos judaicos de kosher são, há décadas, comprados pela comunidade judaica paulista.

Tchoulent, a "feijoada" judaica
Para aqueles que não querem somente petiscar, na rua Correia de Melo, o Adi Shoshi Delishop, que existe desde 1991, é comandado pela família israelense Baruch e traz no cardápio delícias da culinária judaica europeia (ashkenazi) e israelense. Na minha última visita, um sábado pela manhã, o público variava entre judeus mais velhos do bairro e jovens estudantes da região. Provei e aprovei o delicioso fígado batido com ovo e cebola, que veio em quantidade exata para três pessoas. Como prato principal, pedimos um tchoulent (lê-se chulent), ou um grande cozido com vários e diferentes grãos, tripa recheada (kishke), molho e pedaços de peito bovino. É o prato tradicional do sábado em Israel e como a feijoada, cada um tem a versão que mais gosta.

O novo Bom Retiro é o dos coreanos, o que se torna evidente depois de caminhar alguns minutos ou observar os letreiros das lojas. Devagar vai-se conhecendo um pouco da mesa e dos sabores da comunidade. Por isso, recomendo que passe um tempo entre as geladeiras e gôndolas dos mercados nas ruas Três Rios e Prates. O meu favorito é o O&G na Três Rios, 245. Lá, você encontra, entre saladas prontas, pães, frutas e peixes, produtos interessantes como vinagre de caqui, chá de citron, sopa de abóbora com mel para microondas, garrafas de soju (fermentado destilado alcoólico coreano), a bebida mais vendida na Coreia, e o sempre presente kimchi, fermentado de acelga e acompanhamento para todas as refeições coreanas.


Voltando à refeição no Bom Retiro, a sobremesa fica para as novas e excelentes padarias coreanas na Rua Prates, 547. O bom café vem acompanhado de pão de feijão azuki doce, o rocambole de chá verde, e o pão de café recheado de requeijão. A casa ainda oferece diferentes salgados, pães de sabores (prove o de espinafre) e sorvetes coreanos.

Visite o bairro aos fins de semana, é fácil de chegar de metrô (Tiradentes – linha azul) ou de ônibus. Deixe-se levar pelas ruas, seja curioso e chegue com apetite.


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