sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Mercado Ver-o-Peso, em Belém, é pai d´égua!



Belém não é logo ali para quem mora em São Paulo. Há pouca oferta de produtos, pouco conhecimento dos ingredientes e pratos, além das quase quatro horas de voo para lá. Mesmo assim, é um tesouro bem guardado que deve ser explorado.

O principal ponto de partida é o mercado Ver-o-Peso, com alguns séculos de história e localizado frente ao rio Guajará. Lá, funciona um mercado de frutas, de castanhas, de peixes frescos e secos, artesanato e uma “praça de alimentação”, onde pequenos balcões oferecem seus pratos e quatro ou cinco pessoas podem comer sentados.




Camarão seco
O calor lá é realmente forte, por isso recomenda-se já ir provando os sucos locais: bacuri, taperebá (ou cajá), araçá, muruci, uxi e por ai vai. Beba sempre pois é fácil desidratar-se. Circule e não tenha medo de levar pirarucu e camarões secos, castanhas do Pará a granel, as frutas da pupunha, o abricó, as onipresentes mangas em suas infinitas variações, as poções e elixires de cores e ingredientes variados, o artesanato indígena, os bombons recheados de frutas locais, a R$1 cada.

Pirarucu salgado a R$36 o quilo
Entre os peixes frescos, conheça o pirarucu, gigante amazônico e comparável ao bacalhau na maneira de salgar (foto); o filhote, que apesar do nome, pode ter alguns metros e pesar bastante; e todos os peixes de rio, de vários tamanhos e aspectos à venda. Veja o açaí chegando e manchando o chão de violeta-negro e assim, com o apetite aberto, vá comer.

À primeira vista, não parece ser o melhor lugar para uma refeição: muito calor, desordem, quase não há cardápios ou lista de pratos à mostra e tampouco muita higiene. Sim, não é tão bonito quanto gostoso. E claro, sempre prefira onde você pode ver o que é servido, ter informação do preço e a regra número um, ver sempre onde tem mais movimento. Para surpresa de muitos dos meus conhecidos locais, comemos sim no mercado.

Decidimos fazer duas paradas: a primeira, para provar pirarucu frito com açaí. O filé de pirarucu é frito à milanesa e servido acompanhado de uma cuia de açaí gelado. Aqui mais abaixo no Brasil, costumamos ser servidos de uma mistura de açaí com xarope de guaraná e sabe-se mais lá o que. Lá o açaí é servido só, puro e acompanha tudo à qualquer hora do dia. O sabor é mais forte mas não deixa de ser delicioso. Então, a mistura de peixe frito, açaí e a farinha de tapioca torna-se mais interessante e exótica.

Pirarucu frito acompanhado de açaí com tapioca

Para a segunda parada, escolhemos o balcão da Carioca, duas senhoras que cozinham especialidades locais. Preferimos pato no tucupi (fotos abaixo), servido com bastante jambu (claro, pedimos quanto jambu tanto fosse possível). Naquele calor não parece ser a melhor pedida, e não poderia ter sido melhor: muito saboroso, sendo servido coxa, ante coxa e pescoço do pato, acompanhado de arroz branco um bom papo com as senhoras. Acompanhou um guaraná Garoto, produzido no Pará. Não é lá aquelas coisas, somente pela curiosidade.

Como tivemos a oportunidade de visitar o mercado uma só manhã, ainda ficaram por provar muitos outros pratos. Apesar de falarem muito sobre a segurança do local, tudo pareceu seguro, mesmo assim não chegue desprevenido com seus pertences. O mercado fica a pouca distância da Igreja da Sé, do Mangal das Garças e da Estação das Docas, pontos de interesse em Belém. Esperamos voltar muito em breve!

sábado, 24 de novembro de 2012

Belém do Pará e o seu Festival da Tartaruga



Belém do Pará é um dos principais destinos gastronômicos do País, infelizmente pouco explorado pela maioria dos brasileiros. Belém é a terra do tucupi, do jambu, do tacacá, das castanhas, do açaí e de um templo culinário — o mercado Ver-o-Peso, já com mais de três séculos de história.

Após provar ingredientes, pratos e frutas locais, tivemos a sorte de estar em Belém quando foi oferecido pelo restaurante Divina Comida, no bairro de Nazaré, o único fim de semana do festival anual de carne de tartaruga. É importante ressaltar que são tartarugas criadas para este fim, com supervisão veterinária e do IBAMA. Nenhuma delas cresceria para ser ninja ou garota-propaganda do projeto TAMAR, mas sim para proporcionar este post e abrir o apetite dos leitores.

O restaurante já estava cheio antes do meio-dia, e conforme o que foi comentado pela gente de Belém, a carne de tartaruga é bastante apreciada. Havia dois buffets, o de tartaruga e o comum dos finais de semana, sendo o primeiro a R$ 150 por quilo e o segundo a um quinto desse preço.

Em sentido horário, de cima: tartaruga no leite de castanha,
 farofa de tartaruga, tartaruga com jambu, e vísceras de tartaruga.
Provadas todas as opções, que incluiam farofa de tartaruga (servida no próprio casco), risoto de tartaruga, sarapatel de tartaruga, carne de tartaruga no leite de castanha, tartaruga no tucupi, picadinho de tartaruga, e um cozido de vísceras que o nome realmente não lembramos (pacuxá talvez), a conclusão é que a carne é saborosa, suave e de ótimo aspecto.

O sarapatel, feito no sangue da tartaruga, o prato com leite de castanha e as vísceras foram os que mais agradaram: o primeiro porque é uma variação de um prato bem brasileiro com um ingrediente exótico; o segundo, pelos suculentos pedaços de carne branca envoltos em pequenos ossos e regados de leite de castanha; e o último pelo sabor forte e carregado de ferro. O tucupi também agradou bastante, mas por causa do jambu que sempre adiciona o prato.

Usaram-se praticamente inteiras todas as 15 tartarugas que o restaurante conseguiu comprar este ano, já que apenas um fornecedor atendeu todas as avaliações veterinárias e do IBAMA. O preço elevado e a consciência ecológica pode até afastar alguns, mas a oportunidade de provar esta iguaria tão rara hoje deve ser aproveitada por aqueles que gostam do exótico e não tem medo de novos sabores. Ano que vem deve ter mais! 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Feira Escandinava 2012, em São Paulo


Realizada há mais de quatro décadas na capital paulista, a Feira Escandinava, organizada pela Associação Beneficente Escandinava Nordlyset é uma excelente oportunidade para adquirir produtos daqueles países, com destaque para o caviar e o arenque.

O dinheiro obtido com a venda dos produtos é revertido para apoiar projetos sociais brasileiros que envolvem crianças e adolescentes. O chef de cozinha Miguel Gelman Bushatsky conhece e recomenda a feira: “Eu vou todos os anos com a minha avó, comprar gravlax, vale muito a pena, porque dá para encontrar muitos produtos que nunca vemos por aqui”.

Serviço

Onde? Esporte Clube Pinheiros, rua Tucumã, 135, próximo à Faria Lima.
Para quem? Curiosos
Quando?  Dia 07/11: das 12h às 22h e dia 08/11 das 10h às 20h
Quanto? A entrada é 0800! 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Bom Retiro: Médio e Extremo Oriente no centro de São Paulo


Por Luiz Fernando Chimanovitch

Nasci e cresci no Bom Retiro, em São Paulo. Um bairro que se renova a cada geração de imigrantes, trazendo as cores e principalmente os sabores dos que chegam, mantendo também as características do que ficam e até daqueles que já se foram.

Para quem quer fazer compras, o Bom Retiro tem na Rua José Paulino um dos maiores centros comerciais do Brasil, recebendo gente de todos os cantos do País. Com isso, eu acabo me perguntando se as pessoas que visitam esse bairro percebem que, uma ou duas quadras daquele monte de lojas tem-se a oportunidade de provar sabores tão diferentes e distantes quanto um beigale judaico ou kimchi coreano.

O meu Bom Retiro, dos anos 80, é o bairro de presença predominantemente judaica. Lembro-me de encontrar algumas vezes o ator Elias Gleizer, sempre em algum papel de padre em novelas das seis, na rua Guarani. A mesma rua do seu José, cujo comércio também é conhecido por Casa Menorá. Lá, você pode provar delícias judaicas europeias, como o bolo de ricota, as chaloth (pão trançado), beigales, o pão de cebola que merece um recheio de pastrame de peito de boi, picles e mostarda (em dois tamanhos, o maior saindo R$ 8, e que podem ser consumidos no local). Além disso, doces, laticínios, temperos, vinhos de Israel e que seguem os preceitos judaicos de kosher são, há décadas, comprados pela comunidade judaica paulista.

Tchoulent, a "feijoada" judaica
Para aqueles que não querem somente petiscar, na rua Correia de Melo, o Adi Shoshi Delishop, que existe desde 1991, é comandado pela família israelense Baruch e traz no cardápio delícias da culinária judaica europeia (ashkenazi) e israelense. Na minha última visita, um sábado pela manhã, o público variava entre judeus mais velhos do bairro e jovens estudantes da região. Provei e aprovei o delicioso fígado batido com ovo e cebola, que veio em quantidade exata para três pessoas. Como prato principal, pedimos um tchoulent (lê-se chulent), ou um grande cozido com vários e diferentes grãos, tripa recheada (kishke), molho e pedaços de peito bovino. É o prato tradicional do sábado em Israel e como a feijoada, cada um tem a versão que mais gosta.

O novo Bom Retiro é o dos coreanos, o que se torna evidente depois de caminhar alguns minutos ou observar os letreiros das lojas. Devagar vai-se conhecendo um pouco da mesa e dos sabores da comunidade. Por isso, recomendo que passe um tempo entre as geladeiras e gôndolas dos mercados nas ruas Três Rios e Prates. O meu favorito é o O&G na Três Rios, 245. Lá, você encontra, entre saladas prontas, pães, frutas e peixes, produtos interessantes como vinagre de caqui, chá de citron, sopa de abóbora com mel para microondas, garrafas de soju (fermentado destilado alcoólico coreano), a bebida mais vendida na Coreia, e o sempre presente kimchi, fermentado de acelga e acompanhamento para todas as refeições coreanas.


Voltando à refeição no Bom Retiro, a sobremesa fica para as novas e excelentes padarias coreanas na Rua Prates, 547. O bom café vem acompanhado de pão de feijão azuki doce, o rocambole de chá verde, e o pão de café recheado de requeijão. A casa ainda oferece diferentes salgados, pães de sabores (prove o de espinafre) e sorvetes coreanos.

Visite o bairro aos fins de semana, é fácil de chegar de metrô (Tiradentes – linha azul) ou de ônibus. Deixe-se levar pelas ruas, seja curioso e chegue com apetite.